Cine Clube Cult #3

>> terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Há tempos que venho me prometendo escrever um comentário pra cada filme que eu assisto, pelo menos para cada um que me marca de alguma forma... mas, ah, que preguiça!

Vez por outra a disposição vence a batalha e saem alguns textos. Pra conferir clique aqui, aqui e aqui.

Parece que a disposição venceu mais uma vez! Seguem breves comentários sobre os últimos filmes que eu vi - e gostei - no cinema (com spoilers!)

No - Ok, confesso que o que me levou ao cinema para ver esse filme foi essa carinha linda de revolucionário ultra-jovem do Gael. Sério, eu assisto qualquer filme com o Gael. Qualquer um. Até mesmo os bem mais ou menos. Assim, fui lá eu assistir No. O filme conta a história do plebiscito que levou o povo do Chile às urnas para decidir se o general Pinochet continuaria ou não no poder, em 1988 (eu nem tinha nascido). O personagem de Gael é um publicitário de sucesso, convidado para ajudar na campanha do "No" - que não tinha nenhuma esperança de ganhar.


O desafio da campanha era convencer o povo 1) a votar, sem medo de represálias 2) a votar no "não", a priorizar a liberdade de expressão, a democracia e o fim da violência do Estado em relação ao desenvolvimento do país.

A impressão que a câmera do filme passa é a de ser uma daquelas usadas pra fazer filme caseiro, bem América Latina, fim dos anos 80. É estranha a sensação de estar assistindo o que podemos chamar de um "filme de época" (figurino diferente, objetos diferentes, o ultra moderno microondas) e pensar que aquela "época" tão detalhadamente ali caracterizada tem apenas está apenas 25 anos atrás de nós.

Pra quem já não sabe o fim da história (afinal, são fatos históricos, aconteceram ontem, todo mundo devia saber, certo?) o suspense e a tensão são eficientes! Eu confesso que não sabia o final (sabia que o Pinochet tinha deixado o poder eventualmente, não sabia como, rs) e o filme me prendeu do começo ao fim. Todo o processo da campanha "sim" contra "não" me lembrou também a infância no DF e as propagandas eleitorais "Roriz" contra "Candidato do PT", e tudo o que se falou do "Lulinha Paz e Amor" de 2002. 

Pra mim, além das questões históricas, éticas, políticas, "No" é um filme essencialmente sobre propaganda - todos os que consomem publicidade deveriam ver e sair do cinema se perguntando se há algum gosto ou crença deles que não foi moldado por um publicitário.

Chile, la alegría ya viene!








Cara, Argo é um puta filme de suspense! Claro, como o anterior, é suspense pra quem não sabe a história real na qual o filme se baseia. E como no anterior, eu não sabia (me dei conta de que meus conhecimentos de história sobre o período entre o golpe militar em 64 e o atentado às torres gêmeas em 2001 são nulos!).

Gostei bastante, também me deixou presa do início ao fim. É um filme muito bem feito, com um "que" de documentário na câmera. O demolidor Ben Afleck conseguiu deixar claras as relações comerciais e diplomáticas controversas entre os Estados Unidos e o Irã, mas prefere repetir o chiste "ar-gofuck yourself" pra quebrar a tensão das discussões sobre democracia, liberdade, ética, violência e tortura etc. 
Dá a  impressão de que o pensamento foi "ok, colocamos as cenas e os fatos aí, você, telespectador, escolhe sobre o que vai refletir em casa, não nos comprometa!"

O meu único porém em relação a esse filme é a cena depois da sequência super tensa em que os reféns finalmente embarcam no avião e deixam o espaço aéreo iraniano. 
 A cena do alívio é desproporcional a todo o clima do filme. É uma cena longa, barulhenta (com aquela trilha de "DEUS SALVE A AMÉRICA" e contradiz todo o tom dúbio e de autocrítica que estava sendo adotado até ali. Naquela cena nada mais importa: os outros 50 prisioneiros americanos que estão sendo vítima de tortura, a política intervencionista dos estados unidos, nada, nada, nada: apenas importa as seis vidas americanas que acabaram de ser salvas, graças ao super agente da CIA, e à boa ação do presidente Carter que liberou as passagens. Ah, vá.

À parte disso é um ótimo filme e, bem, é americano. Ficou a curiosidade pra saber como os iranianos contam a história.



Ah! Django é simplesmente sensacional! Não sei por onde começar a comentar o filme, todo mundo já comentou o filme. Vamos tentar.
Sim, é um "Tarantino", com sangue, violência e referências a filmes de bang bang que eu não assisti.

Com uma trilha sonora fantástica, o que mais me impressionou no filme foi a elaboração dos personagens e as atuações. Vou comentar meus preferidos, tentando fugir um pouco do muito que já se falou e registrando minhas impressões pessoais:

1) Dr Schutz (Waltz), um alemão caçador de recompensas, assassino profissional e eficiente, que não vê dilema ético na sua profissão - mas cuja sensibilidade é atingida pela brutalidade do tratamento aos escravos no Sul americano. As frases "Eu te dei a liberdade e agora me sinto responsável por você", dele, e "Ele não está acostumado com americanos", do Django, são as que melhor o definem. (incrível pensar que Tarantino coloca um alemão pra ser o humanista da história, depois de escrever e filmar Bastardos Inglórios! - aliás, sobre bastardos inglórios: assistir no cinema um cinema cheio de nazistas pegando fogo foi uma das grandes experiências cinematográficas da minha vida, rs)

2) Monsieour Candie (Leonardo DiCaprio) no papel do afetadinho que não sabe mais o que fazer com o dinheiro que herdou do pai e do avô está sensacional. Mimado, profundamente egoísta, exibicionista e vaidoso, superficial, entediado ao ponto de só se excitar com demonstrações públicas de poder e com as lutas entre os escravos. Uma peça fácil de no joguete de manipulação pelo personagem mais extraordinário do filme,

3) Mr Stephen, interpretado por um Samuel L. Jackson cheio de fúria e paixão. Mr Stephen é o cara que mostra que a teoria frenológica de Monsieur Candie não tem a menor base: pra ser inteligente e filho da puta tanto faz a sua etnia. Stephen aprendeu a manipular seu dono, (muito melhor do que degolá-lo, muito mais útil e mais sutil), e pra manter seu próprio poder jogava com ele, ora submisso, ora puxa-saco, ora conselheiro humilde. A atitude de Stephen não é um racismo de negro contra negro: é uma atitude de legítima autopreservação: que valor um escravo que aprendeu a manipular os seus donos teria num mundo sem escravidão? O seu status dentro da fazenda dependia da manutenção daquele sistema - é esse o pensamento de todo aquele que não usa seu poder e influência para iniciar uma revolução!



Como eu sempre digo quando comento de cinema aqui: é a opinião impressionista de uma telespectadora diante de uma obra de arte/consumidora de um produto, nada técnico. Eu não entendo de cinema, mas sei um cadim de narrativas, rs.

Fica a dica pra quem ainda não viu os três filmes: ainda estão em cartaz no cinema do Liberty Mall, corre que dá tempo!



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